terça-feira, 22 de maio de 2012

Apenas um sonho

     Estava lá. Imóvel, inerte, um corpo vazio e despido de qualquer sinal de emoção.  Onde estava a vida presente em seu olhar, em seu sorriso? Onde estava o som da sua voz, que particularmente achava feia, mas era... viva... Não... não agora...
     E foi essa a visão que teve de si mesma. Antes mesmo de ver sua imagem assim, já era possível se ver a "tragédia anunciada" no espelho. Mas nada se comparava ao que via agora. E, ali, um turbilhão de pensamentos lhe invadiram. Palavras, cenas do filme da sua vida, pessoas que amou e por quem foi tão amada, as atividades que gostava de fazer... músicas, crianças, seu violão, amigos... Agora, não mais...
     De repente, passou a desejar uma nova vida... "Quem sabe não posso voltar para consertar tudo, fazer tudo melhor?", pensou. De repente, passou a imaginar e planejar as coisas que faria de novo, de diferente. De repente, se conta de que pudesse não ter esta chance... e de repente, se viu a "sacudir" aquele corpo gélido, esmurrando-o, gritando como quem quisesse acordar o mundo.
     O seu mundo.
     A si mesma.
     E nesse desespero, sentindo o frio a cortar-lhe, o próprio frio mortal, despertou, enfim. Cansada, o peito apertado ainda, sozinha em seu quarto frio. "Foi só um pesadelo", repetia incessantemente, enquanto tentava conter as lágrimas. Após alguns minutos constatou, enfim, que na verdade, tudo não passou de um sonho ruim...
     Apenas "um sonho"...

domingo, 6 de maio de 2012

Portas abertas

     "Portas se abrem dos dois lados".
     Essa frase ficou martelando na minha cabeça desde que a escutei. Então, como uma goteira insistente, essa afirmação ficou pingando situações, lembranças, pensamentos... Enfim, vou tentar externar o que essa  goteira resultou.
     Desde que nos entendemos como gente, estamos entrando e saindo de muitos lugares. São coisas indissociáveis: entrar e sair, subir e descer, fechar e abrir... E quando se fala em portas, imagine: sempre existe o outro lado da porta! Como ninguém pensa nisso? Ou será que pensa? Talvez ninguém pense na complexidade de uma porta, costumamos comparar "pessoas burras" às portas, o que de nuas, nada têm, já dizia Vinícius de Moraes.
     Mas, nas minhas reflexões, pensei nas portas que abrimos com as relações pessoais, de todos os tipos. Sempre abrimos uma porta. Seja através de um sorriso, um olhar, um toque, uma palavra... A partir daí, as relações se estabelecem. Algumas portas permanecem abertas por muito tempo... outras nós fechamos ou nos são fechadas. (Isso é assunto para uma próxima vez...)
     Algumas portas estão há tanto tempo fechadas, que os ferrolhos já estão enferrujados. São portas difíceis de abrir... Depende da nossa vontade e da vontade de quem está do outro lado querendo entrar. Você puxa, o outro empurra. Juntos, conseguirão abrir a porta. Falo por experiência. Eu mantive um porta fechada em mim por muitos anos... Se não fosse a insistência de quem estava do outro lado, eu não teria forças para abrir a porta sozinha. Aí está o X da questão: Ninguém abre uma porta sem motivo: seja para sair, entrar ou permitir que alguém entre...
     Mas a vida é cheia de surpresas... Sabe aqueles programas de auditório em que o participante tem que escolher uma porta para abrir, sem saber o que está atrás dela? Pois é... algumas vezes nos arriscamos desse jeito. E a "surpresa" pode não ser tão agradável assim. Você abre aquela porta, segue por aquele caminho e, em dado momento, você se encontra numa situação de total abandono, desespero e solidão... Deseja voltar e se dá conta do longo caminho de volta. E como dói voltar... O sentimento de frustração é inexplicável. Só sabe quem passa por isso.
     E agora, estou aqui, com um chaveiro nas mãos. Olho para dentro de mim e começo, pouco a pouco, a fechar algumas portas. Ato doloroso, porém necessário.
     Necessário para evitar a frustração da espera por alguém que não vai entrar por essa ou aquela porta.
     Necessário para não ver o que se passa do outro lado, numa realidade que você desejava que fosse diferente.
     Necessário para deixar para trás o que já passou e só te traz lembranças recheadas de dor.
     Necessário para que novas portas se abram e com elas,a esperança de dias melhores e boas surpresas.
     Necessário para viver o presente e tentar ser feliz.