Acostumada a ver Inocência cuidando de suas flores todas as manhãs, Esperança estranhou a ausência da moça. Perguntou aos vizinhos se ela havia viajado. Foi até a saída da cidade para saber se havia passado por lá. A informação que recebeu foi a de que um moço muito bonito havia tomado a estrada e, pela descrição, Esperança soube que era Perfeito. Voltou até à casa de Inocência, chamou insistentemente por ela, e ouviu sua voz embargada dizendo que "estava bem". Obviamente, Esperança não acreditou. E tinha razões para não acreditar.
Esperança era uma senhora muito "jovial". Estava sempre com um sorriso amável no rosto, não importava a situação: estava sempre sorrindo. Era considerada a conselheira da Vida, todos a procuravam quando estavam tristes e desesperados. Suas palavras sempre traziam alento aos que a procuravam. Esperança era sinônimo de conforto e amizade...
Quando soube que Perfeito havia partido da cidade, Esperança lembrou-se de tantos casos parecidos que já presenciou... Sabia o que Inocência estava sentindo... Por isso, era necessário ter muita paciência e persistência para ajudar a pobre moça... E foi assim que conseguiu entrar e falar com Inocência. A pobrezinha, sentada em um canto do quarto, estava pálida, enfraquecida, os olhos inchados de tanto chorar. O que dizer num momento desses? Pela sua experiência, Esperança já sabia o que fazer: simplesmente sentou-se ao lado de Inocência e sem dizer uma só palavra, acolheu a menina em seus braços.
Aos poucos, Esperança convencia Inocência a alimentar-se, a levantar-se do estado de prostração, a voltar a "viver"... Era um processo delicado e Esperança sabia muito bem. Sem forçá-la a nada, tentava mostrar que Vida continuava ali e que não parou apesar de Inocência ter se trancado em si. A doce Inocência ouvia suas palavras, sabia que Esperança tinha razão, mas não conseguia reagir... A desilusão e decepção foram grandes demais para seu frágil coração que manteve há tanto tempo preservado. Quando finalmente resolveu entregá-lo a alguém, este o destruiu completamente. E lidar com essa lembrança não era nada fácil.
Numa dessas manhãs, Inocência teve uma surpresa: uma figura sorridente entrava pela porta do seu quarto, cantando e dançando. Que cheiro era aquele? Era tão familiar... Era ela, Esperança! "O que era aquilo em sua cabeça?", pensava Inocência e, como se houvesse lido seus pensamentos, Esperança lhe diz:"Veja essa coroa de flores, Inocência! Você não as reconhece? São as suas flores!
Cuidei delas enquanto você estava aqui... Veja! Elas floresceram! Venha! É Primavera!"
E continuou a dançando e cantando.
Inocência sorriu...
Algo começou a mudar...
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